A vida de Emillay Caroline Lopes Baía, dona de casa, 26 anos, mudou completamente, na quarta-feira, 25 de maio. Nesse dia, ela saiu muito cedo de casa, localizada num bairro periférico de Castanhal, sem tomar café, levando no colo a pequena Emily Carolina, de seis meses.
A mãe dela não pôde acompanhá-la à consulta da bebê, que nasceu com um problema congênito nos pés e se preparava para uma cirurgia. Naquele dia, mãe e filha, iriam ao Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação -CIIR, localizado na avenida Artur Bernardes, em Belém.
Além da ansiedade em relação à cirurgia da filha, Emillay estava muito atrasada. Acordou tarde, a van que ela costuma pegar próximo ao Cristo Redentor também atrasou. Para chegar ao ponto de van, ainda precisa pegar um ônibus que faz a linha interna no município.
Queda de pressão – Ao descer da van, por volta de 8 horas da manhã, na parada da avenida Almirante Barroso, próxima à avenida Júlio César, a mãe da pequena Carolina caminhou alguns passos em direção ao ponto de ônibus localizado na Júlio César, quando teve um mal súbito, uma queda de pressão, provavelmente, por não ter se alimentado.
Mãe e filha foram ao chão. A bebê bateu com a cabeça e chorou bastante, a mãe machucou muito as costelas e sentia dores. “Esqueci até da forte dor que me agoniava, mas, o meu desespero maior era com a minha bebê, que passou de mão em mão e vi uma mulher se afastando com ela no colo”, contou Emillay. “Foi então que um anjo chamado Priscila apareceu na minha vida”, relembrou.
Empatia e compromisso com a vida
Priscila Chagas é agente de trânsito da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) há 10 anos, e está há alguns meses em serviço no cruzamento da Almirante Barroso com a Júlio César. Junto com o parceiro Guilherme Cabeça, a agente trabalha na fiscalização e operacionalização do trânsito, no cruzamento que é um dos gargalos da Almirante Barroso.
Os agentes ficam com botoeira no local, caso necessário, operam o semáforo manualmente para garantir a fluidez no trânsito das duas avenidas, grandes corredores de tráfego.
“Eu estava no meu local de trabalho quando um senhor veio até a gente e disse que uma moça havia passado mal. Corri até ela, que já estava no chão e tinha um bebê no colo de uma senhora. Eu perguntei como ela estava e respondeu que sentia muita dor na lombar. Ela estava muito agoniada e preocupada. Perguntei se a bebê era dela e respondeu que sim”, contou a agente Priscila.
“Acionamos o Samu e ela muito agoniada querendo levantar, mas, sentido muita dor. Então peguei a bebê e a acalmei. Disse que ia sentar ao lado dela, e que poderia tocar na filha e ver que ela estava bem”, ressaltou a agente.
Priscila disse que a mãe estava preocupada porque a criança havia batido a cabeça, mas, ela a tranquilizou informando que a menina estava bem. “Foi quando eu resolvi me sentar ao lado dela, que se acalmou, e ganhamos tempo até a chegada do Samu”
Cena viralizou na internet
Aqueles minutos de espera pela ambulância pareciam uma eternidade para Emillay, segundo relembrou. Ela não sabia se a filha estava bem, o que iria acontecer com ela e a cirurgia que havia perdido.
“Naquele momento, Priscila me acalmou. O jeito dela conversar comigo, de dizer que estava tudo bem com a minha filha e que só iria entregá-la a alguém da minha família me deixou mais tranquila”, relembrou.
Segundo a mãe da bebê, “não foi só o uniforme da agente de trânsito que a tranquilizou, mas a atitude dela”, explicou. E foi justamente essa atitude, registrada em fotos, que viralizou na internet.
Depois de atendidas pela ambulância, as duas foram levadas até o CIIR e como a mãe não estava em condições de segurar o bebê, a agente Priscila foi junto. No Centro de Reabilitação, os médicos entenderam a situação e remarcaram a cirurgia para o dia 14 de junho, que ocorrerá no Hospital Abelardo Santos.
Remarcada a cirurgia e com avó ao lado, somente neste momento, a agente Priscila entregou a pequena Carolina para alguém da família, conforme havia prometido. E para finalizar, a agente da Semob ainda viabilizou um motorista de aplicativo para levá-la até o Bengui, na casa da avó e posteriormente para Castanhal.
“Não fiz mais que a minha obrigação de cidadã. É uma rotina da vida do agente de trânsito, as pessoas só veem a parte da fiscalização, mas, a gente está ali para ajudar a população”, justifica.
Reencontro – Dias depois do ocorrido as duas se reencontraram, na sede administrativa da Semob, para relembrarem o episódio e mais agradecimentos. “A Priscila é o anjo que Deus colocou na minha vida. É a segunda mãe da Carolina”, enfatizou. Para demonstrar tanta gratidão, Emillay convidou Priscila e o marido para padrinhos da pequena. “Parece que estava esperando uma madrinha para a minha filha”, disse.
Desde então, elas conversam todos os dias. A pequena se sente segura no colo da agente que ainda ganhou o carinho e confiança do levado Miguel, de 3 anos, que é bastante cuidadoso com a irmã. Porém, o menino deixa Priscila segurá-la no colo. “Existem pessoas boas no mundo. Que bom seria se o mundo tivesse mais Priscilas. Seria um mundo muito melhor”, pediu Emillay.
Texto: Rosângela Gusmão
Foto: Ascom/Semob