Basta um olhar mais atento para perceber que Belém amanheceu diferente nesta sexta-feira, 23. Em dez pontos da cidade, carros frutos de acidentes de trânsito chamavam a atenção de quem passava por perto. “A batida foi feia. Com certeza isso foi ou por dirigir embriagado ou em alta velocidade. Aqui é um cruzamento, passa muita gente no mercado, um absurdo ser imprudente desse jeito”, disse o autônomo Edilson Nunes, 52, enquanto observava um dos veículos tombados próximo do Mercado de São Brás.
Não houve uma onda de acidentes durante a madrugada. A ação faz parte da campanha “Todos Pela Vida” lançada pelo Detran, com apoio da Prefeitura de Belém via Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém – Semob para mostrar que basta um minuto de desatenção ou de desrespeito às regras de trânsito para que vidas se percam ou fiquem com sequelas para sempre.
A campanha de alcance estadual começou por Belém e essa escolha não foi aleatória. O Pará tem, atualmente, uma frota de 1.855.126 carros, dos quais 428.074 em Belém, ou seja, a capital concentra quase um quarto de todos os veículos que circulam no estado. Por aqui os acidentes mais recorrentes são colisão entre veículos (6.596), queda de motocicleta (299) e atropelamentos (560), segundo dados do Detran de 2016. A falta de atenção lidera a lista das causas desses acidentes (2.457 casos), seguido por derespeito à preferencial (773) e manobra irregular (734). Ainda sobre esses acidentes, em 2016, 100 pessoas morreram por causa do trânsito. E 3.767 ficaram feridas, muitas delas com sequelas.
“Cerca de 50% dos leitos de UTI no Hospital Metropolitano são ocupados por traumas de acidentes de trânsito que, além das mortes, causam traumas neurológicos e motores. A maioria dos óbitos é de pessoas com menos de 30 anos e a maioria dos sequelados tem menos de 25, o que gera um custo para o resto da vida”, revela médico e assessor especial da Secretaria de Estado de Saúde – Sespa, Hélio Franco, informando que a Organização Mundial de Saúde tem uma meta de reduzir em 50% o número de óbitos por acidentes de trânsito até 2020.
E a campanha lançada nesta sexta-feira tem exatamente esse objetivo. Em locais como a Av. Pedro Álvares Cabral com Júlio César, Av. Almirante Barroso com Júlio César, Av. Duque de Caxias com Rua Antônio Barreto, Av. João Paulo II com Av. Perimetral, Praça do Relógio, Doca com Boaventura da Silva, entre outros, carros foram estrategicamente colocados para chamar a atenção das pessoas. Neles estão expostas histórias de acidentes com vítimas, todos casos reais em que foram preservados os nomes verdadeiros dos envolvidos.
“É preciso uma mudança comportamental. Com essa vida agitada as pessoas não querem perder tempo e não percebem que, com um minuto de desatenção, podem perder a vida ou atingir alguém que não deveria estar diretamente envolvido em um a cidade. É por isso que a Prefeitura de Belém investe no trabalho de educação para o trânsito realizado pela Semob e também está sempre presente em campanhas como essa, de informação e conscientização da população”, diz Ana Paula Grossinho, superintendente da Semob.
É esse cuidado que, só agora, Haroldo Santos admite ter. Ele é vítima de um acidente de trânsito em que, de carona com uma pessoa alcoolizada, o carro acabou batendo, capotando e resultando na morte de três amigos, o que lhe rendeu um trauma que carregará para sempre.
“Superar um trauma é difícil, o que fica é a saudade. Hoje tenho dificuldade em entrar no carro, de pegar carona, e a lição que ficou é a de que precisamos seguir as leis, porque, afinal, a gente sempre pensa que nunca vai acontecer com a gente”, desabafa o jovem, que agora aplica a própria experiência na consultoria da campanha, buscando evitar que outras pessoas passem pelo mesmo problema.
E o recado está sendo dado com esta campanha, que une Governo do Pará e Prefeitura de Belém pela vida. “Muito legal tudo isso. Até pra quem vem em alta velocidade na via e vê esse suposto acidente, pensa que pode acontecer com ele e automaticamente diminui a velocidade. Com certeza essa ação pode prevenir muitos acidentes desta forma”, elogia Lanilson Rodrigues, 37, montador. “A ação está de parabéns. É uma forma educativa que assusta, causa impacto”, destaca Ricardo Oliveira, 46, chaveiro. “Dizem que a Semob só multa, guincha, mas não é verdade e o que está sendo feito nessa ação é a prova disso”, completa.
Texto: Esperança Bessa
Foto: Tássia Barros – Comus
Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (SEMOB)