O Ministério da Saúde faz o alerta: 19,3% da população das capitais brasileiras afirma que faz o uso do celular enquanto dirige, o que representa um a cada cinco indivíduos. Dentro desse universo, Belém é a capital com maior percentual de uso de celular por condutores – 24,1%. Os dados, divulgados na segunda-feira, 24, são do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que entrevistou por telefone 52.395 pessoas maiores de 18 anos, entre fevereiro e dezembro de 2018.
Segundo Carlos Valente, diretor geral da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (SeMOB), a pesquisa é desdobramento de um estudo mundial realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização Mundial de Saúde (OMS) para apontar os maiores fatores de risco para acidentes de trânsito.
Entre os resultados, além dos já esperados, como dirigir sob o efeito de álcool, sem equipamentos de segurança – cinto de segurança, cadeirinha para criança e capacete para motociclistas -, ultrapassagem perigosa e excesso de velocidade, apareceu também o fator de distração como de relevância para o número de acidentes, e o uso do telefone celular se caracterizou como um dos mais graves fatores de distração.
“Isso ainda se agrava mais quando o telefone é utilizado para conversas de texto. Pesquisas apontam que dirigir utilizando celular para ler ou digitar mensagem é quatro vezes mais nocivo que dirigir sob o efeito de álcool”, diz Carlos Valente.
“Quando você tira a visão do trânsito e transfere para a leitura no aparelho, você perde totalmente o contato visual com o que está acontecendo ao seu redor. Quando você dirige é preciso estar com todos os sentidos voltados para a segurança no trânsito. É preciso estar de olho no semáforo, no pedestre, no veículo à sua frente, atrás, no ciclista e outros mais. Se não estiver atento e vigilante para avaliar a situação de risco, não terá uma reação rápida e segura diante de um possível acidente”, ressaltou Valente.
Uso de celular – Apesar de o uso de telefone celular não estar entre as infrações de trânsito mais registradas em Belém, ficando em 7° lugar no ranking em 2017 (com 3.252 multas) e 8° lugar em 2016 (com 3.683 multas), a SeMOB, além do trabalho de fiscalização, mantém um trabalho constante de conscientização e educação sobre o tema. A ação mais recente ocorreu no mês de maio, durante o Maio Amarelo, com diversas blitzes educativas nas ruas e uma campanha publicitária em outdoor, busdoor, rádio e TV.
“É muito preocupante termos Belém como capital com maior uso de celular de forma inadequada no trânsito. E temos observado de forma empírica que é um hábito, não só de condutores, mas também de pedestres, visto que, muitos acidentes com pedestres ocorrem por causa da distração na travessia usando telefone celular e/ou fone de ouvido”, alerta o diretor da SeMOB.
Carlos Valente ressalta ainda que o uso de telefone celular pode ser um dos fatores também dos chamados acidentes “misteriosos”, quando não há um motivo aparente para a ocorrência. “Chamamos assim aqueles acidentes em que não há sinais de frenagem na via ou quando há engavetamento, atropelamento de pedestre ou ciclista, ou mesmo quando um condutor de veículo pequeno não vê um ônibus que cruza o seu caminho. São aqueles acidentes em que o condutor não parece ter tido a percepção do risco iminente. Nesses casos, quando se checa a fundo, um dos motivos mais recorrentes é a distração pelo uso do celular”, revela.
É necessário que não apenas o poder público faça a sua parte, mas que haja conscientização dos condutores. “Não adianta dizer que estava usando o telefone para resolver um problema de trabalho ou pessoal. É preciso que a pessoa entenda que, ou ela não atende, ou procura um acostamento ou um estacionamento, fala e só depois volta ao trânsito. Nossa orientação é sempre que o condutor esqueça o telefone celular enquanto estiver ao volante”, concluiu Carlos Valente.
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Texto: Esperança Bessa
Fotos: João Gomes