A mulher está cada dia se apropriando mais de espaço em ambiente de trabalho, antes considerados predominantemente masculino. É o caso das agentes de trânsito e de transporte da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob).
Ao todo, elas representam 10,48% desse universo de agentes da Semob, que, todos os dias, estão nas ruas seja fiscalizando o trânsito ou o transporte coletivo por ônibus, complementar e suplementar.
A participação feminina na fiscalização, organização e educação do trânsito, começou há 23 anos, em 1999, quando a primeira mulher ingressou na Autarquia, na terceira turma de concurso público, lotada na Diretoria de Trânsito. Atualmente, elas são 15 de um universo de 159 agentes.
Honestidade – Elisângela Costa é uma delas. Tomou posse no dia 24 de maio de 2012 e nove anos depois, em 2021, assumiu o cargo de supervisora. “A minha principal conquista no trânsito foi adquirir a admiração de todos, sempre trabalhei com comprometimento, responsabilidade e honestidade”, disse a agente.
“Um dos meus maiores desafios ao trabalhar no trânsito foi combater a discriminação”, completou lembrando que ouviu muitos comentários machistas de que “trânsito não é lugar para mulheres e, sim, dentro de casa, tomando conta da casa e dos filhos”.
Ela disse que nunca se abateu, porque sempre acreditou na capacidade dela. “Estou aqui para comprovar isso”, finalizou.
Correria – Para Elisângela, a mulher é bem sucedida no ambiente de trabalho porque tem a habilidade de exercer várias tarefas ao mesmo tempo.
“Nessa correria do dia-a-dia várias mulheres exercem dupla ou até tripla jornada de trabalho. Sou dona de casa, mãe, estudante e agente e trânsito. Assim como eu, muitas mulheres exercem várias funções ao longo do dia”.
A agente Darlen Lyra, que também é da turma de 2012, afirma que a profissão agente de trânsito é ocupada, em sua maioria, por pessoas do sexo masculino.
“Aos poucos conseguimos ocupar nossos espaços, inclusive, no trânsito. Com delicadeza e determinação, realizamos nossa função com eficiência e eficácia. A atribuição de fiscalizar é difícil, pois, a maioria dos usuários de trânsito não gosta de ser observada, repreendida e autuada, porém, com bom senso, alcançamos os desafios diários de nossa profissão”, disse.
A primeira mulher a assumir como agente de transporte na Autarquia foi há 28 anos – Hoje, elas somam seis de um total de 26 profissionais, distribuídos entre as coordenadorias de Fiscalização e Vistoria (CFVI) e de Transportes Especiais (COTE), da Diretoria de Transporte, com a função de fiscalizar, monitorar e vistoriar o transporte coletivo por ônibus, suplementar e complementar (micro-ônibus e vans), individual (táxi e mototaxi) e hidroviário.
A titular da COTE, Edilma Belém, considera um desafio grande comandar uma equipe, composta por diversas categorias do trânsito e do transporte, a qual mantém três mulheres em sua coordenadoria.
“A fiscalização requer muito trabalho. Mas, não é difícil e nem impossível. Não podemos deixar de sonhar e de pensar nos desafios que a vida profissional nos impõem”, orientou.
Capacidade – É desafiador desempenhar um papel que, tradicionalmente, é executado por homem, para a agente de transporte Ana Cláudia Machado.
Há 23 anos na profissão, ela disse que não é fácil lidar com operadores, grande parte homens, na fiscalização nos finais de linha e nas garagens, por terem dificuldade de receber ordens e sugestões de uma mulher.
“Quando estamos em local de maioria masculina, lidamos com o isolamento, descrédito, piadas e situações constrangedoras, que volta e meia, ocorrem por se tratar de um espaço de trabalho que reproduz um sociedade brasileira machista que, no geral, nos desqualifica como profissionais e, por isso, muitas vezes temos que provar que somos capazes”, avaliou.
Mobilização e luta – Ana Cláudia analisa que se hoje, as mulheres ocupam cada vez mais os espaços considerados masculinos, tudo é fruto da mobilização e da luta dos movimentos de mulheres.
“É verdade que os papéis de gênero ainda influenciam nas escolhas profissionais, mas a presença feminina está em ascensão em carreiras tidas como masculinas”, disse.
O dia 8 de março, segundo ela, é para refletir sobre a força da representatividade feminina em novos espaços.
“Não é raro provocar susto quando chegamos nos nossos locais de trabalho uniformizadas, com nossas pranchetas e talonários de multas, pois, a ideia de ver mulheres na linha de frente, assusta mesmo. É isso que a gente quer, provocar reações”, finalizou.
Texto: Rosângela Gusmão